A fusão do hidrogénio em hélio resulta de diversas cadeias e ciclos de reacções nucleares que transformam 4 protões num núcleo de He, com emissão de 2 positrões (e), 2 neutrinos e libertação de energia, que varia entre 26.73 Mev e 19.17 Mev conforme as reacções intervenientes. Os positrões são imediatamente aniquilados pelos electrões do plasma, com produção de energia, mas os neutrinos, dado que têm uma capacidade extremamente baixa de interactuarem com outras partículas, viajam sem pertubação através da estrela e do espaço interestelar. Conhecendo a luminosidade da estrela é fácil calcular o fluxo de neutrinos emitidos.
No caso do Sol o fluxo total é de 1.8 10 neutrinos emitidos por segundo. Uma área de 1 cm à superfície da Terra, colocada perpendicularmente à direcção Terra-Sol é atravessada por 6.4 10 neutrinos solares em cada segundo! Na década de 1960 surgiu a ideia de procurar detectar os neutrinos solares pondo assim à prova o modelo de produção de energia no Sol. É um teste muito importante em astrofísica porque é o único meio que temos de obter informação directa sobre o que se passa na região central do Sol, onde é produzida a energia.
É aqui que surge o enigma!
Na experiência de Davis, que detecta neutrinos de energia superior a 0.8 Mev e está em funciomamento há mais de 25 anos obtem-se uma taxa de detecção de 2.55
Detectaram-se neutrinos provenientes do interior do Sol e isso constitui uma validação importante dos modelos das estrelas e da sua evolução. Mas o fluxo detectado é muito inferior ao previsto. A solução do enigma está em incorreções no modelo do Sol ou este modelo é correcto e passa-se algo desconhecido com os neutrinos no seu trajecto do interior do Sol aos detectores ou no processo de detecção na Terra? A comunidade científica parece inclinar-se progressivamente para a segunda solução. Esta iria alterar profundamente a actual teoria das interacções nuclear fraca e electromagnética, isto é, a chamada teoria standard da interacção electrofraca.
Será que durante o percurso do Sol à Terra os neutrinos de tipo electrão, , se transformam em neutrinos de tipo muão, , e em neutrinos de tipo tau, ? As oscilações entre diferentes estados de neutrinos -, , - dependem da interacção com electrões ou dão-se no vácuo? São questões ainda sem resposta.
O caso dos neutrinos solares desaparecidos é um exemplo eloquente de como a Astrofísica está hoje em dia na vanguarda da ciência, conduz a questões verdadeiramente novas e lança profundos desafios à Física. A fronteira da ciência fundamental situa-se cada vez mais na observação do Universo próximo e longuínquo, revelado pelos poderosos meios de observação astronómica (disponíveis, a ser construídos ou apenas planeados) do que nas experiências possíveis de realizar nos limitados laboratórios da Terra.
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